UFSC inicia recuperação ambiental com plantio de mudas e melhoria da qualidade das águas

02/06/2025 10:37

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) iniciou a execução do Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas do Campus Trindade (PRAD-TRI), após mais de 12 anos de processo judicial. O projeto atende a uma sentença que exige a recuperação ambiental do campus, incluindo a melhora na qualidade da água, revegetação e cercamento de Áreas de Preservação Permanente (APP), correção da rede de esgoto e ações de educação ambiental.

Na primeira ação, durante a Semana do Meio Ambiente, foram plantadas cerca de 100 mudas nativas em área próxima ao Alojamento Indígena, com previsão total de 2.600 árvores. O reitor Irineu Manoel de Souza classificou o projeto como uma reparação histórica, enquanto a coordenadora Anna Cecilia Petrassi destacou seus impactos positivos na qualidade de vida no campus.WhatsApp Image 2025-05-30 at 09.10.09 (2)

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Para o prefeito Universitário, Matheus Lima Alcantara, a execução do PRAD é “um longo processo que se findará com um campus mais sustentável”. “Significa não só a melhoria da qualidade da água, mas também a mitigação de diversos impactos ambientais provenientes da urbanização intensa dentro e fora do campus”, disse.

Luiz Alberto Nickel e sua filha, a professora do Departamento de Saúde Pública, Daniela Nickel, participaram da atividade, coordenada como parte de um minicurso oferecido pela Sala Verde e Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA). “Eu sou morador da Trindade, gosto de meter a mão na terra, fui criado por agricultores”, disse Luiz. Sua filha o convidou para participar do mutirão, e contou que percebeu que já há um movimento de regeneração das áreas próximas aos cursos d’água na região do Centro de Ciências da Saúde (CCS), onde ela trabalha.

De fato, o PRAD-TRI está em execução desde o final de 2024, com diversas atividades acontecendo pelo campus. Além do plantio de mudas, a retirada de árvores exóticas e invasoras já vem acontecendo. Ao longo dos últimos anos, graças à parceria com o programa Se Liga na Rede, da Prefeitura Municipal e Casan, as ligações de redes de esgoto do campus foram testadas em mais de 90%, com as irregularidades identificadas e em processo de correção. E no âmbito da educação ambiental, diversas atividades promovidas pela UFSC, inclusive como as da Semana do Meio Ambiente, vêm sendo realizadas.

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Ciça Petrassi lembra que são ações de reparação que podem levar algum tempo para terem seu impacto percebido. “Sabemos que para sentir o resultado deste plantio, precisaremos esperar 10 anos para que estas mudas cresçam. A questão do saneamento também, sabemos que a água que passa pelos córregos que cortam a UFSC não está poluída apenas pelo impacto da Universidade. Porém, com as ações que estamos executando, teremos correções e depois um monitoramento dessa qualidade da água. E com as ações de educação ambiental, estamos promovendo conscientização e a mudança de atitudes em relação ao meio ambiente. Portanto, são todas essas ações que, somadas, ao longo do tempo, frutificarão no futuro, e irão gerar diversas melhorias para as próximas gerações”, salienta a gestora de Gestão Ambiental.

O biólogo da CGA, Allisson Jhonatan Gomes Castro, detalha que o campus universitário é um caminho natural de diversos cursos d’água. “Temos nascentes aqui, há córregos que cortam o campus e estão canalizados, outros estão em sua forma natural. Além disso, recebemos águas das chuvas dos morros do entorno, e todo esse volume de água atravessa o campus e chega até o mangue no Itacorubi. Temos, ainda, um solo diverso, em alguns lugares é bem rochoso, o que impede a infiltração da água. Então, para além de melhorar a qualidade da água, precisamos pensar nesse escoamento, nesse curso natural”, conta o especialista. APPs_UFSC_2022-300x261

PRAD-TRI adapta o plantio de árvores às condições do campus da UFSC, considerando a urbanização e o tipo de solo. Em áreas férteis, o plantio é direto e espaçado; em solos compactados, como estacionamentos, usa-se o plantio em “ilhas” com 13 mudas. Também há incentivo à regeneração natural, com remoção de espécies exóticas invasoras como pinheiros, eucaliptos e até frutíferas como goiabeiras. Essas espécies estão sendo substituídas por árvores nativas da Mata Atlântica, como aroeiras, paineiras, araçás, pitangueiras, olandi e guabirobas.

Conheça o inventário das árvores do campus da Trindade

Esse plantio é realizado principalmente pelas equipes da Coordenadoria de Manutenção das Áreas Verdes, do Departamento de Manutenção Externa da Prefeitura Universitária (DME/PU). Quem chefia essas equipes é Edson Alves Pereira, que ressalta que, o processo de plantio envolve etapas como preparar a área, cavar os buracos, adicionar composto e nutrientes, plantar a muda, com o uso de tutores como as estacas de bambu, e criar no local um “coroamento” ao redor da muda com material orgânico, para manter a umidade.

Há também um processo de acompanhamento das mudas, com um período de irrigação, controle de pragas e espécies invasoras, readubagem, substituição de mudas que não vingaram. Segundo o biólogo Allisson, esse processo ocorre por pelo menos três anos após o plantio das mudas, e para isso, pelo menos cinco trabalhadores da equipe de Edson ficam sempre envolvidos nas atividades do PRAD-TRI.

O coordenador Edson, emocionado, compartilha sua ligação pessoal com a UFSC, onde sua família trabalhou por gerações. Ele considera o campus sua casa e se sente realizado em contribuir com a recuperação ambiental do local. A Prefeitura Universitária (PU) participa ativamente do PRAD-TRI, envolvendo diversos setores, como os departamentos de manutenção, fiscalização e projetos.

Segundo o prefeito Matheus, os primeiros impactos visíveis do PRAD incluem o cercamento das Áreas de Preservação Permanente (APPs), remoção de lavadores de carros e demolição de construções irregulares. As próximas etapas incluem a regularização das instalações hidrossanitárias, com construção e adequação de caixas de esgoto, fechamento de fossas e novas ligações à rede, além de vistorias pelo programa Se Liga Na Rede.

Histórico

A sentença judicial pela reparação foi emitida em 2014, originada a partir de uma Ação Civil Pública, movida em 2007 contra a UFSC devido à canalização e o aterramento de um curso d’água existente no campus da Trindade. Na época, essa intervenção tinha o objetivo de urbanizar a área para a construção de blocos de ensino. Após a sentença, diversos estudos e audiências de conciliação ocorreram, até que o Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina aprovasse o plano, em outubro de 2024.

O PRAD-TRI foi desenvolvido por um Grupo de Trabalho multidisciplinar da UFSC, com participação de setores técnicos como a Coplan, PU, CGA e DPAE. Após sua aprovação em 2024, um novo grupo foi criado para coordenar e executar as ações. A UFSC tem 30 meses para implementar o plano, segundo decisão judicial.

Carolina Peña, da Coplan, destaca que o plano foi pensado de forma viável e austera, diante das limitações orçamentárias e estruturais da universidade. O sucesso da execução depende do engajamento da comunidade universitária, já que ainda há definições em aberto e o prazo é curto.

O prefeito Matheus lembra que muitas ações, como demolições e obras de saneamento, exigem processos licitatórios e contratações. A engenheira Carolina reforça que a recuperação ambiental também é uma forma de construção, com benefícios para a qualidade da água, da fauna e da vivência no campus, e que o projeto deve ser um esforço coletivo.

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