UFSC inicia recuperação ambiental com plantio de mudas e melhoria da qualidade das águas
A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) iniciou a execução do Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas do Campus Trindade (PRAD-TRI), após mais de 12 anos de processo judicial. O projeto atende a uma sentença que exige a recuperação ambiental do campus, incluindo a melhora na qualidade da água, revegetação e cercamento de Áreas de Preservação Permanente (APP), correção da rede de esgoto e ações de educação ambiental.
Na primeira ação, durante a Semana do Meio Ambiente, foram plantadas cerca de 100 mudas nativas em área próxima ao Alojamento Indígena, com previsão total de 2.600 árvores. O reitor Irineu Manoel de Souza classificou o projeto como uma reparação histórica, enquanto a coordenadora Anna Cecilia Petrassi destacou seus impactos positivos na qualidade de vida no campus.
Para o prefeito Universitário, Matheus Lima Alcantara, a execução do PRAD é “um longo processo que se findará com um campus mais sustentável”. “Significa não só a melhoria da qualidade da água, mas também a mitigação de diversos impactos ambientais provenientes da urbanização intensa dentro e fora do campus”, disse.
Luiz Alberto Nickel e sua filha, a professora do Departamento de Saúde Pública, Daniela Nickel, participaram da atividade, coordenada como parte de um minicurso oferecido pela Sala Verde e Coordenadoria de Gestão Ambiental (CGA). “Eu sou morador da Trindade, gosto de meter a mão na terra, fui criado por agricultores”, disse Luiz. Sua filha o convidou para participar do mutirão, e contou que percebeu que já há um movimento de regeneração das áreas próximas aos cursos d’água na região do Centro de Ciências da Saúde (CCS), onde ela trabalha.
De fato, o PRAD-TRI está em execução desde o final de 2024, com diversas atividades acontecendo pelo campus. Além do plantio de mudas, a retirada de árvores exóticas e invasoras já vem acontecendo. Ao longo dos últimos anos, graças à parceria com o programa Se Liga na Rede, da Prefeitura Municipal e Casan, as ligações de redes de esgoto do campus foram testadas em mais de 90%, com as irregularidades identificadas e em processo de correção. E no âmbito da educação ambiental, diversas atividades promovidas pela UFSC, inclusive como as da Semana do Meio Ambiente, vêm sendo realizadas.
Ciça Petrassi lembra que são ações de reparação que podem levar algum tempo para terem seu impacto percebido. “Sabemos que para sentir o resultado deste plantio, precisaremos esperar 10 anos para que estas mudas cresçam. A questão do saneamento também, sabemos que a água que passa pelos córregos que cortam a UFSC não está poluída apenas pelo impacto da Universidade. Porém, com as ações que estamos executando, teremos correções e depois um monitoramento dessa qualidade da água. E com as ações de educação ambiental, estamos promovendo conscientização e a mudança de atitudes em relação ao meio ambiente. Portanto, são todas essas ações que, somadas, ao longo do tempo, frutificarão no futuro, e irão gerar diversas melhorias para as próximas gerações”, salienta a gestora de Gestão Ambiental.
O biólogo da CGA, Allisson Jhonatan Gomes Castro, detalha que o campus universitário é um caminho natural de diversos cursos d’água. “Temos nascentes aqui, há córregos que cortam o campus e estão canalizados, outros estão em sua forma natural. Além disso, recebemos águas das chuvas dos morros do entorno, e todo esse volume de água atravessa o campus e chega até o mangue no Itacorubi. Temos, ainda, um solo diverso, em alguns lugares é bem rochoso, o que impede a infiltração da água. Então, para além de melhorar a qualidade da água, precisamos pensar nesse escoamento, nesse curso natural”, conta o especialista.
O PRAD-TRI adapta o plantio de árvores às condições do campus da UFSC, considerando a urbanização e o tipo de solo. Em áreas férteis, o plantio é direto e espaçado; em solos compactados, como estacionamentos, usa-se o plantio em “ilhas” com 13 mudas. Também há incentivo à regeneração natural, com remoção de espécies exóticas invasoras como pinheiros, eucaliptos e até frutíferas como goiabeiras. Essas espécies estão sendo substituídas por árvores nativas da Mata Atlântica, como aroeiras, paineiras, araçás, pitangueiras, olandi e guabirobas.
Conheça o inventário das árvores do campus da Trindade
Esse plantio é realizado principalmente pelas equipes da Coordenadoria de Manutenção das Áreas Verdes, do Departamento de Manutenção Externa da Prefeitura Universitária (DME/PU). Quem chefia essas equipes é Edson Alves Pereira, que ressalta que, o processo de plantio envolve etapas como preparar a área, cavar os buracos, adicionar composto e nutrientes, plantar a muda, com o uso de tutores como as estacas de bambu, e criar no local um “coroamento” ao redor da muda com material orgânico, para manter a umidade.
Há também um processo de acompanhamento das mudas, com um período de irrigação, controle de pragas e espécies invasoras, readubagem, substituição de mudas que não vingaram. Segundo o biólogo Allisson, esse processo ocorre por pelo menos três anos após o plantio das mudas, e para isso, pelo menos cinco trabalhadores da equipe de Edson ficam sempre envolvidos nas atividades do PRAD-TRI.