Dia Mundial da Água e o desperdício que não se vê

22/03/2019 12:13

Por Julia Breda / Estagiária de Jornalismo

No Brasil, cada pessoa consome, em média, 154 litros de água por dia – de acordo com o Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento, do Ministério das Cidades. Esse número é 44 litros maior do que a quantidade que a Organização das Nações Unidas (ONU) considera necessária para um indivíduo – 110 litros ao dia¹. Mas isso é apenas o consumo direto. A água é um recurso utilizado na fabricação da maior parte das coisas em nosso dia-a-dia – e esse consumo, na maior parte das vezes, não é contabilizado.

Para tentar quantificar a água doce “invisível” consumida, Arjen Hoekstra, um pesquisador holandês, introduziu o conceito de Pegada Hídrica, em 2002. A Pegada Hídrica é um indicador que leva em consideração o uso da água de forma direta e indireta – tanto do consumidor quanto do produtor – para definir o volume total de água doce utilizado para produzir os bens e serviços. Os brasileiros consomem, em média, 1.381 m³ per capita por ano. A média global é de 1.243 m³.4

Por exemplo, para produzir 1kg de carne são utilizados, em média, 15 mil litros de água – esse número depende de fatores como o tipo de sistema de produção, e da composição e origem da alimentação do gado. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que o setor agropecuário, em média, é o maior utilizador de recursos hídricos. São 140 litros para fazer apenas uma xícara de café; 3.400 litros para produzir um quilo de arroz.

Mas não é só a agroindústria que desperdiça muita água. Em 2006, cerca de 70% da água foi destinada para o setor agrícola, 20% para o setor industrial e 10% para residências. Utiliza-se, por exemplo, 10 mil litros de água na produção de apenas uma calça jeans. Considerando-se que, hoje, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo são privadas do direito à água potável, segundo dados da ONU² – e a demanda global de água, que tem aumentado a uma taxa de 1% ao ano, continuará crescendo nas próximas décadas, devido o crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e mudanças nos padrões de consumo6 – se faz necessário repensar a maneira como utilizamos esse recurso, tão necessário para a vida de todos os seres de nosso planeta. Para assegurar à atual e às futuras gerações a disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, precisamos fazer mudanças em nosso dia-a-dia:

  • Evite o desperdício de água: escove os dentes com a torneira fechada; evite banhos longos; lave o carro e a calçada com um balde e não mangueira.
  • Repense a compra de bens desnecessários: existe água desperdiçada “escondida” na sua comida, em suas roupas, nos seus equipamentos eletrônicos, entre outros. Que tal reconsiderar a compra daquela calça nova, quando você já tem outras no armário?
  • Que tal diminuir o consumo ou até mesmo substituir a carne vermelha? Para além dos maus tratos animais, a Pegada Hídrica de um hambúrguer de soja de 150 gramas produzido na Holanda, por exemplo, é cerca de 160 litros. Um hambúrguer de carne do mesmo país necessita cerca de 1000 litros.³

Na UFSC

Para além do aspecto individual, é preciso, também, que as instituições se posicionem no sentido da preservação hídrica. Apenas no ano passado, a UFSC consumiu um total de 281.100 m³ de água. Baseando-se no o Programa de Uso Racional da Água da Universidade de São Paulo (PURA-USP), que resultou em uma redução de 41% do consumo de água entre 1998 e 2013, a Universidade Federal de Santa Catarina criou o Projeto de Melhorias no Sistema de Abastecimento de Água e Conscientização do Uso Racional da Água na UFSC. O objetivo é a elaboração de um plano de gestão da água, por meio do acompanhamento do consumo de água na universidade e de intervenções, de forma a entender os usos deste recurso nas edificações, e diagnosticar problemas de perdas por vazamentos e desperdícios de água nas atividades cotidianas.5

Para que esse controle seja feito de maneira adequada, é preciso que cada pessoa que circula na universidade também se responsabilize. Viu algum vazamento? Avise o Departamento de Manutenção Predial e Infraestrutura (DMPI). Junte-se para fazer uma universidade livre de desperdícios de água.

 

¹FERREIRA, Priscila. Água Invisível. 2018. EBC. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/especiais-agua/agua-invisivel/?fbclid=IwAR1ZQJcOwJCtZL7ufRck3J5JzEQ1NBHAkF_GHtNDhgSAoEkoYi_xVSQiRzk>. Acesso em: 20 mar. 2019.

²ONU BRASIL. Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo são privadas do direito à água 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/mais-de-2-bilhoes-de-pessoas-no-mundo-sao-privadas-do-direito-a-agua/>. Acesso em: 22 mar. 2019.

³WATER FOOTPRINT. Pegada Hídrica. 2019. Disponível em: <http://www.pegadahidrica.org/?page=files/home>. Acesso em: 21 mar. 2019.

4PEGADA HÍDRICA BRASIL. Consumo e uso da água. 2019. Disponível em: <http://www.dca.ufcg.edu.br/phb/phb03.html>. Acesso em: 21 mar. 2019.

5UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Programa de Uso Racional da Água da Universidade de São Paulo, 2019. Disponivel em: <http://www.pura.usp.br/>. Acesso em: 20 Março 2019.

6WWAP. The United Nations World Water Development Report 2018: Nature-Based Solutions for Water. UNESCO – United Nations World Water Assessment Programme) / UN-Water. Paris, p. 156. 2018. (ISBN 978-92-3-100264-9).